Dormindo no trem noturno

Bom, meu trem chegou na plataforma pontualmente. Para viajar nesse trem, mesmo tendo o passe de trem, é necessário fazer uma reserva. Existem algumas opções para você reservar, por exemplo: você pode reservar uma poltrona comum, onde vai viajar sentando toda a noite; pode reservar uma cama em uma cabine para 1, 2 ou 3 pessoas; ou tem as couchettes, que são camas em cabines para 4 ou 6 pessoas. Tem também a primeira classe, mas essa estava fora dos meus planos. A reserva que eu fiz foi para uma cama em uma cabine de 3 pessoas. Ela é mais cara que as couchettes, mas imaginei ter mais conforto, mesmo que na segunda classe.

Quando eu cheguei na minha cabine eu levei um balde de água fria. Na verdade a cabine tem um triliche, exatamente igual as couchettes para 6 pessoas. É bem apertado e pra piorar um pouquinho a minha cama era a mais alta. Algumas pessoas tinham falado bem dessa cama mais alta, pois ali tem espaço pra você colocar sua mala e tal. Mas cara, era impossível eu erguer minha mala naquela altura. Bom, tentei socar meu mochilão embaixo da primeira cama, mas não entrou.. Ficou metade pra fora. E a mala de rodinha tive que colocar no canto, perto da janela. Bom, agora era torcer pra não chegar mais ninguém na cabine ou se chegar que não tenha muitas malas.

Eu perguntei para a comissária do trem se as outras camas estavam ocupadas. Ela disse que a mais baixa estava. E a do meio não, mas eu não poderia trocar pois alguém poderia comprar aquele lugar em alguma das paradas do trem. E a pessoa da cama mais baixa embarcaria em uma estação no meio da viagem. Tudo bem, vou me conformar com a cama mais alta. Entreguei meu passe e minha reserva para a comissária, sabia que ela me entregaria só no dia seguinte com o café da manhã.

Era hora de subir e testar minha cama. Primeiro susto: quando eu fui subir naquela escada assassina da cabine… Eu não sabia que ela era solta e no meio do caminho eu puxei ela pra cima e ela desprendeu da lateral…. cara, e eu teria despencado se a cabine não fosse tão apertada, mas eu só encostei na parede do outro lado e me empurrei pra frente novamente. Ufa… Cheguei no topo! Não era muito agradável não. Eu não conseguia ver a janela e o teto era muito baixo. Dava uma impressão de estar em uma capsula. Tomei logo um dramin pois eu tinha certeza que ali um enjôo seria certeiro.

Bom, sei que eu dormi e acordei só no outro dia. A luz do dia já começada a entrar na janela lá embaixo. Eu olhei meio que tentando abrir os olhos lá pra baixo e vi outras malas na cabine. A outra pessoa chegou durante a noite e eu nem vi. Pouco tempo depois chegou o café e eu tive que descer para pegar. Conheci o cara da primeira cama. Uma cara novo e bem alto. Não sei como ele coube naquela cama. Depois eu descobri que quase todos os alemães são altos. Nos apresentamos, falei que era do Brasil e ele de algum lugar da Alemanha que eu não consegui entender o nome.

Momento vergonha no trem: Quando a comissária pegou meu passe no dia anterior ela me ensinou a usar a chave na porta da cabine. Era uma chave diferente, e sempre que eu saísse da cabine eu deveria trancar a porta. E quando estiver lá dentro eu deveria deixar a chave pendurada na porta, para que outra pessoa quando sair pudesse entrar. Por dentro a porta sempre abre, mas por fora só com a chave. Ok, tudo entendido. O que eu não sabia era que eu teria que abrir a porta pro outro cara quando ele chegasse.

Não sei se foi por conta do dramin ou por estar muito cansado, mas eu desmaie na cama. E esse alemão falou que bateu muitas vezes na porta quando ele chegou, mas eu não acordei. Ele chamou a comissária, ela também bateu e eu dormindo. Aí ela pegou uma outra chave para abrir. Eles viram que eu estava dormindo e segundo palavras dele: You sleep like a baby. Certeza que eu fiquei vermelho quando ele falou isso. Meu.. Acho que o trem podia pegar fogo que eu ia continuar dormindo.

No fim das contas, dormir no trem na foi tão ruim assim. No meu próximo trem eu terei de encarar uma cabine com seis couchettes. Bom, o trem parou e finalmente eu estava em Munique. Céu estava azul e o frio estava de tricar os dentes, mas eu nem imaginava o domingo lindo que me esperava…